O conceito de espiritualidade se tornou extremamente popular nos nossos dias, de forma que na contemporaneidade essa noção várias vezes é usada de maneira mais “vaga” podendo significar coisas até mesmo contraditórias¹.
Para uma primeira definição do conceito propomos a ideia de que a espiritualidade pode ser entendida como uma dimensão humana que busca um sentido para a sua existência, de forma que esse sentido pode ser encontrado em uma dimensão transcendente (para além do sujeito, do mundo, um absoluto, etc.), ou em uma dimensão imanente (a ser realizado no mundo, sem uma dimensão para além da materialidade). O que diferiria a espiritualidade de um mero “objetivo a ser alcançado” é a dimensão do “sentido”, algo pelo qual o sujeito está disposto a entregar toda a sua vida. É esta característica que coloca a espiritualidade como uma dimensão humana imprescindível para pensarmos uma antropologia contemporânea.
A espiritualidade pode ou não estar ligada a uma vivência religiosa, e nos nossos dias é bastante comum diversas pessoas se considerarem possuindo uma espiritualidade sem pertencer a nenhuma religião específica. A espiritualidade entendida como um caminho interior pode ser vivida sem submissão a mitos, a símbolos, a crenças, a sacralidades e a religiões. São, pois, possíveis a vida espiritual e a mística em uma sociedade completamente leiga e sem crenças.
Em nossa época a espiritualidade tem sido bastante estudada no que se refere às suas relações com a saúde humana. A Organização Mundial de Saúde (OMS) vem propondo investigações sobre a espiritualidade enquanto constituinte do conceito multidimensional de saúde; atualmente, o bem-estar espiritual vem sendo considerado mais uma dimensão do estado de saúde, junto às dimensões corporais, psíquicas e sociais, e usada diversas vezes em estudos referentes aos chamados cuidados paliativos em pacientes terminais. O que percebemos é que a espiritualidade na contemporaneidade deixou de ser uma questão religiosa apenas e passou a ser pensada como parte integrante da pessoa.
Se entendemos a espiritualidade desta forma, fica tranquilo entendermos como que a espiritualidade faz parte da nossa vida em todas as nossas ações. Se ela é uma parte integrante da pessoa, quando fazemos algo, compartilhamos algo, exercemos nossa humanidade no ambiente universitário estamos exercendo a nossa espiritualidade. A espiritualidade entendida da forma como propomos aqui pode nos ajudar a entender o nosso ambiente, os nossos colegas, nossas tarefas de uma forma mais leve e nos possibilitar viver uma vida mais harmônica com as pessoas que nos cercam e com as quais convivemos.
É importante perceber que a espiritualidade como colocamos aqui está diretamente ligada ao mundo da vida, de forma que é impossível pensar tal espiritualidade como um sujeito que se isola dos outros, fechado sobre si mesmo, independente de todos os demais. Essa nova forma de pensar a espiritualidade tem um foco grande na noção de comunidade, na noção de mundo da vida, ou seja, é uma espiritualidade que se manifesta no mundo, com o próximo, com o colega, com o funcionário, com o professor, etc.
Desta forma percebemos que o ambiente universitário, assim como todos os ambientes que convivemos, são lugares onde podemos exercer a nossa espiritualidade, podemos encontrar sentido para a nossa existência, e assim olhando para o mundo, esforçar para torná-lo cada vez melhor. Começando pela nossa casa, nosso trabalho, nossa universidade, alcançando esferas cada vez maiores nas quais nossa atuação fará diferença para melhorar o mundo que tanto precisa ser melhorado.
¹ Diversos autores como Marià Corbi, Mikhail Esptein, Charles Taylor, Rubem Alves, João Batista Libanio escreveram bastante sobre o tema, de forma que o que nos propomos aqui é apenas uma pequena definição do conceito de espiritualidade sem nos ater a um debate mais teórico sobre o tema. Para tal debate o leitor pode buscar estas referências, além dos trabalhos do próprio autor do texto sobre a temática publicados em diversos periódicos.
Fabiano Veliq
Professor do Instituto de Filosofia e Teologia da PUC Minas. Doutorando em Filosofia na UFMG (2022). Doutor em Psicanálise pela PUC Minas (2015), Mestre em Filosofia da Religião pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte – FAJE (2011), Especialista em Teologia Sistemática pela Faculdade Batista de Belo Horizonte. (2012). Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais (2008). Concluiu o Pós-Doutorado em Psicanálise na PUC Minas (2016). Concluiu o Pós-Doutorado em Filosofia na FAJE. (2018).
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